Há 70 anos entrava no ar o REPÓRTER ESSO

No ar, o Repórter Esso, testemunha ocular da história!
O mais famoso noticiário de todos os tempos, o Repórter Esso, estreou no rádio há 70 anos, no dia 28 de agosto de 1941. Foi o primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil, comandado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Patrocinado pela empresa norte-americana sediada no Brasil, Standard Oil Company of Brazil, o Repórter Esso se especializou em divulgar, principalmente, notícias sobre a evolução das guerras travadas pelos Estados Unidos em todo o mundo.

O Repórter Esso (também conhecido como O Seu Repórter Esso) foi um noticiário histórico do rádio e da televisão brasileira.
Foi o primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil que não se limitava a ler as notícias recortadas dos jornais, pois as matérias eram enviadas por uma agência internacional de notícias sob o controle dos Estados Unidos da América.

Os locutores que fizeram maior sucesso no noticioso foram: Heron Domingues, Luiz Jatobá e Gontijo Teodoro. 
Os slogans mais famosos eram: 
O Primeiro a Dar as Últimas
Testemunha Ocular da História.
O programa radiofônico trouxe para o radiojornalismo brasileiro, a informação por ele divulgada não era apenas notícia, mas se constituía, também, em informação dirigida, em propaganda político-ideológica, produzindo e construindo sentido e com alvo certo: o governo e determinados segmentos da sociedade brasileira. 
A primeira transmissão ocorreu na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1941, iniciando a cobertura do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

Antes da estreia oficial, o programa havia ido ao ar experimentalmente na Rádio Farroupilha de Porto Alegre.

Na televisão, o noticiário, inicialmente com o nome de O Seu Repórter Esso, foi apresentado de 10 de abril de 1952 até 31 de dezembro de 1970 na TV Tupi.

Getúlio Vargas.
O programa inicialmente foi criado para fazer a propaganda da guerra americana direcionada ao povo brasileiro. Iniciou sua atividade em 1941 apoiado pelo presidente Getúlio Vargas e sob a orientação do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP.

O Repórter Esso foi um dos primeiros sintomas da globalização das comunicações: o pacote cultural-ideológico dos Estados Unidos incluía em suas várias edições diárias, uma síntese noticiosa de cinco minutos rigidamente cronometrados, a primeira de caráter global, transmitido em 14 países do continente americano por 59 estações de rádio, constituindo-se na mais ampla rede radiofônica mundial.

O Repórter Esso se especializou em divulgar principalmente notícias ligadas ao modo de vida americana da época, conhecida como 'American way of life'. Os informes traziam ainda aos ouvintes a evolução das guerras travadas pelos Estados Unidos em todas as partes do planeta.

Realizou ampla cobertura da Guerra da Coréia em 1950, enviando correspondentes para o campo de batalha.
Além das guerras, o programa radiofônico dava bastante ênfase às notícias de autoridades, notáveis, estrelas e astros de cinema e feitos científicos norte-americanos. O Repórter Esso não informava notícias da Europa, da Ásia e da África se não houvesse interesses norte-americanos envolvidos.
Em 1955 noticiou, antes de todos, a morte de Carmem Miranda.
Em 1957, informou com grande ênfase a explosão da Bomba de Hidrogênio. Em 1959 informou que Fidel Castro vencera a Revolução Cubana reforçando o avanço do perigo comunista na América Latina.

O último Repórter Esso
O Repórter Esso terminou suas transmissões em 31 de dezembro de 1968.
Na última edição, transmitida pela Rádio Nacional e pela Rádio Globo do Rio de Janeiro, a partir das 20:25 da noite, o radialista Guilherme de Sousa fez a identificação da emissora e dando a hora certa, antes de anunciar: "Alô, alô, Reporter Esso! Alô!"
Assista ao vídeo sobre o Repórter Esso, trabalho da disciplina da história do jornalismo brasileiro do curso de Comunicação Social - Jornalismo da UFC.
Ao som das tradicionais trombetas, o locutor Roberto Figueiredo entrou no ar, noticiando sobre as festividades do ano novo (1969); o pronunciamento do presidente Costa e Silva sobre o momento nacional e a instituição do AI-5, além do mesmo assinar decretos sobre o setor financeiro; a condenação de Israel por parte das Nações Unidas pelo atentado contra o Líbano; a Missa de Ano Novo realizada pelo Papa Paulo VI; a previsão do tempo nas principais cidades do país; e as principais notícias dadas pelo Repórter Esso em 27 anos de atividade.
Durante a leitura desta última, Roberto Figueiredo começou a chorar e se emocionar, chegando a um ponto em que o locutor reserva Plácido Ribeiro, que estava no estúdio na hora do noticiário, seguiu a leitura. Roberto tentou se recompor e, aos prantos, encerrou o último Repórter Esso, desejando uma boa noite e um feliz ano novo.
O último Repórter Esso no Rádio, em 31 de dezembro de 1968.
Na televisão, o noticiário foi apresentado pela última vez em 31 de dezembro de 1970 na TV Tupi e na TV Record.

Personagens que fizeram a história no Repórter Esso:

Heron de Lima Domingues
Heron Domingues nasceu em São Gabriel, Rio Grande do Sul ,em 04 de junho de 1924.
Aos 16 anos tentou a carreira de cantor e foi participar em um concurso de calouros na Rádio Gaúcha, em Porto Alegre a 7 dezembro de 1941, dia escolhido pelos japoneses para bombardear Pearl Harbour, Havaí nos Estados Unidos.
Na ausência do locutor da rádio, Domingues foi lançado às pressas aos microfones e deu a notícia em primeira mão. Não participou do concurso, mas saiu da rádio empregado.
Em 1944, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar na Rádio Nacional, onde, no programa Repórter Esso, transmitia a informação "como se estivesse numa trincheira", costumava dizer.
Acampado no estúdio da carioca Rádio Nacional, Heron Domingues, o Repórter Esso , aguardava sôfrego pelo telegrama que confirmaria o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Deveria fazer jus ao apelido a ele atribuído, "o primeiro a dar as últimas".

Após passar Natal, Ano-Novo e Páscoa em alerta, os colegas insistiam para que ele fosse descansar em casa. Aceitou o conselho a contragosto e, para sua decepção, foi em casa que o radialista soube do fim do armistício, pela emissora concorrente. Para consolo, sua credibilidade ressoou: "Se o Repórter Esso ainda não deu, não deve ser verdade", comentava-se pelo País. Só depois que empostou sua inconfundível voz ao microfone é que a notícia ganhou veracidade.
Na televisão, trabalhou na extinta TV Rio, onde apresentou o Telejornal Pirelli, ao lado de Léo Batista e na Rede Globo, onde apresentou o Jornal da Noite e o Jornal Internacional na Globo de 1971 até 1974.

Em tom alarmista, o radialista foi o primeiro a noticiar vários fatos históricos nos 33 anos de carreira: o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima - (1945): o suicídio de Getúlio Vargas - (1954), a morte da cantora Carmen Miranda - 1955; a renúncia do presidente da República Jânio Quadros - (1961), a chegada do Homem à Lua - (1969).
Ouça o Repórter Esso - Heron Domingues anuncia a morte de Hitler e o fim da 2ª Guerra Mundial no dia 7 de maio de 1945


Heron Domingues acreditava que a voz era dádiva de Deus e não se preocupava em preservá-la. Boêmio, bebia e fumava em excesso. Depois do expediente, era comum lotar a casa de amigos para notívagos bate-papos. Quando as visitas partiam, virava-se para a esposa, a jornalista Jacyra Domingues, e dizia: "Já faz muito tempo que estou em casa, vamos sair para dançar".
Foi o primeiro apresentador de televisão, quando ingressou na TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1961. Desde 1972, estava na TV Globo, (Rede Globo), do Rio de Janeiro.
Eron Domingues também foi apresentador de televisão.
Eufórico para anunciar com exclusividade o impeachment do ex-presidente norte-americano Richard Nixon, no extinto Jornal Internacional, da TV Globo, sem imaginar que seria seu último noticiário. Poucas horas depois foi jantar com os amigos, tendo tido um infarto fulminante já em casa. Os amigos acreditam que Domingues foi vencido pela emoção.

"Trabalhei no Repórter Esso de 1944 a 1962, sem um dia de folga. Levantava-me ás 6:45 hs. e voltava para casa à 1:30 da madrugada. Nos períodos críticos, dormia na rádio, que tinha uma cama na redação. 

Para se ter uma idéia da época conturbada em que vivíamos, no período em que fui locutor do Esso, houve no Brasil dez presidentes da república. Durante a guerra, dormia na Rádio Nacional com um fone no ouvido, diretamente ligado a UPI. Sempre que havia uma notícia importante, eles me despertavam, eu mesmo colocava a emissora no ar e transmitia a notícia. 

Para o fim da guerra, preparamos uma audição especial do Repórter Esso, em que a notícia seria dada fundida com o repicar de sinos. Com medo de me emocionar muito diante do microfone, gravei o início da transmissão: "Atenção! Atenção! Acabou a guerra"  (Heron Domingues).

Uma equipe médica estudou a voz de Domingues por dez anos e nenhuma alteração foi observada, um fenômeno. "Bebo e fumo em excesso", disse ele. "Pois continue bebendo e fumando", aconselharam os médicos.
Heron Domingues faleceu em 9 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, após um dia de trabalho. Teve um ataque cardíaco. Ele era casado com a jornalista Jacyra Domingues.

Luiz Jatobá
Luiz Jatobá foi dono de uma das mais belas vozes da locução e narração no rádio, cinema e televisão durante cerca de 45 anos. Desinibido e incentivado por uma namorada, inscreveu-se e ganhou um concurso para locutores vinculado no Jornal do Brasil (1935), que inaugurava a sua emissora. Foi escalado para programa em que selecionava discos clássicos e fazia comentários. Paralelamente a este emprego, estudava Medicina Ortopédica, e após formar-se, foi fazer pós-graduação nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, passou a escrever reportagens para jornais cariocas e para a revista Manchete e apresentava o programa "A Hora do Brasil".
Foi para o EUA e como contratado da Columbia Broadcasting System, a CBS, em Nova York, tornou-se correspondente para o Brasil de notícias sobre a Segunda Guerra, e apresentador de traillers cinematográficos para a Metro Goldwin Mayer. No Brasil tornou-se (1950) o apresentador do primeiro noticiário da televisão brasileira, o Repórter Esso, na TV Tupi do Rio.
Foi para a Rádio Mayrink Veiga (1951), atuando como apresentador de programas e também na Rádio Nacional (1958-1960). Participou de programas na TV Excelsior, foi para a TV Globo (1969) e, três anos depois, voltou aos Estados Unidos, onde trabalhou novamente como narrador de traillers cinematográficos para a Columbia, a Paramount, a Universal Pictures, e a United States Information Agency.
Faleceu em 1982 em Nova Iorque, aos 67 anos.

Kalil Filho
Kalil foi o primeiro Repórter Esso da TV no Brasil e em São Paulo, na época, o noticiário mais famoso da TV Tupi.
Kalil Filho foi contratado pela TV Excelsior em 1964 quando daquela febre de contratações que o Grupo Bozzano Simonsen (proprietário da TV Excelsior) fez na TV, desbancando a Tupi de ser a emissora que liderava o Ibope na época.
Na TV Excelsior Kalil também fazia um telejornal, sua especialidade. Foi diretor astístico, e devido a um 'traira', (que ele chamava de gansterzinho), teve uma briga com a direção da TV e saiu. Foi trabalhar na Rádio Bandeirantes onde apresentava o 'Reporter Sucesso'.
Em 1967 foi trabalhar nas Organizações Globo (ainda não a poderosa Rede Globo) onde foi fazer um programa na Rádio Excelcior, que fazia parte das Organizações Victor Costa que tinha sido comprada por Roberto Marinho.
Seu nome era Munir Mieli Kalil, filho de José Jorge Kalil e dona Itália Mieli.
Kalil Filho nasceu em 2 de dezembro de 1930 e faleceu em 13 de abril de 1970, num acidente na Marginal Pinheiros em São Paulo.

Gontijo Teodoro
Gontijo Teodoro ficou famoso por comandar o popular “Repórter Esso”, programa que marcou época na televisão brasileira.
A célebre frase “amigos ouvintes, aqui fala seu Repórter Esso, testemunha ocular da história”, sempre acompanhada por uma das vinhetas musicais mais conhecidas da história da TV brasileira, anunciou, durante 17 anos, o início das edições do telejornal que teve como um de seus símbolos Gontijo Teodoro. O apresentador comandou o programa entre 1953 e 1970, na extinta TV Tupi.
Na telinha, “Repórter Esso” repetiu o sucesso que alcançara no rádio brasileiro, na década de 40, apresentado pelo locutor Heron Domingues.
Gontijo Teodoro morreu aos 78 anos de idade, vítima de enfarto, no Rio de Janeiro.